Na sala de espera de um médico,
esses dias, li uma matéria numa revista médica sobre o desprezo na criação dos
meninos. Todos os dias vemos lutas para que as mulheres sejam valorizadas e que
sua criação inclua valores que são ensinados aos meninos; acho válido, mas que
valores são esses?
Vamos pensar em uma cena clichê:
a família se prepara para almoçar, num dia qualquer. O pai se senta á mesa, pode
estar tomando uma cerveja e o menino pode esta jogando algum jogo no videogame,
na sala. A menina está na cozinha com a
mãe, aprendendo a cozinhar, a organizar o espaço da culinária familiar. E está
convivendo.
No ato de cozinhar, a mulher
aprende muito mais do que misturar temperos. Aprende-se sobre a ancestralidade da
família, hábitos passados de geração em geração; a menina aprende a se
relacionar com sua cultura, aprende o modo de pensar dela. Pode-se dizer que é
ai que começa a “escravidão feminina”: ela cozinha para servir ao pai e ao
irmão, enquanto estes estão esperando por ela. Mas vamos voltar para o garoto
que joga videogame na sala.
Ele não está convivendo. Na ânsia
de que o homem seja o “dono” da casa, acaba-se esquecendo de que ele também
precisa aprender sobre seu meio ambiente. O que ele saberá de sua cultura? Não é
importante que os meninos saibam quais os costumes, lendas, hábitos que
envolvem sua família?
Se quisermos que a mulher seja
reconhecida no meio masculino, é preciso que o homem seja reconhecido no meio
feminino também. Se quisermos que uma mulher seja levada a serio quando vai a
uma oficina mecânica, por exemplo, teremos que aceitar o homem possa ser bem
aceitos em cabeleireiros É uma faca de dois gumes: é a mutua aceitação que está
em jogo.
De nada adianta veicular imagens
de homens cuidando de bebês, num estereótipo de bom pai, se quando ele ainda
era um menino não lhe ensinaram a trocar as fraldas de sua irmã mais nova por
que isso é “coisa de mulher”.
É o que eu acho.