quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Retrospectiva

A vida é cheia de ritos de passagem, a sociedade mais primitiva criou momentos em que o ser humano faz sua transição. E foi em 2014 que tive meu rito.
No ano de 2010 iniciei uma jornada, parti do rito vestibular para uma nova – e assustadora – viagem: A universidade. Durante quatro anos naveguei por águas desconhecidas, visitei praias desertas e vilas povoadas, encontrei pessoas no deserto e aprendi com elas na multidão. Vivi sonhos, matei certezas e alimentei dúvidas.
Fiz tantos amigos e – infelizmente – não me lembrarei de todos seus nomes. E cultivei outros ainda, que levarei comigo no coração quando tudo estiver perdido. Descobri coisas. Descobri tantas coisas e no final desta jornada tão intensa tive um momento de solidão. Me formei em 2014. Findei uma jornada para, quase que imediatamente, iniciar outra: voltei à escola.
Também fiz amigos nessa nova viagem, grandes e pequenos... literalmente. Conheci um modo de amar tão lindo e puro que ás vezes me fazia ofegar.
Tive filhos em 2014. Sim, no plural. Tantos com tantas singularidades e necessidades que meu coração teve que aprender a se abrir cada vez mais para recebê-los. Aprendi a ser mais humana, descobri aquele nosso lado que nos faz agir sem pensar, sem esperar retorno. Descobri esse amor exigente que assopra a própria mordida e que ama. Apenas ama.
Vi que o amor não pode ser cego pois amar exige visão. O amor que descobri pedia ações desesperadas, desesperadamente, um amor urgente, angustiado e sorridente. Aquele que nos faz correr contra o tempo para sarar feridas antigas e eternas. Me tornei algo maior, me tornei um espelho para outros olhos, me tornei um exemplo. Acho que me tornei professora.
Naveguei pela educação em 2014. Fiz e refiz coisas, li e me indignei com outras.
Cresci. Suei. Corri. Dancei.
Ganhei dinheiro em 2014, conquistei espaços, nadei contra e à favor da correnteza, provei sabores e pessoas, me joguei de penhascos, quebrei-me entre as pedras de alguns deles.
Tive crises, alegrias, afogamentos e fui salva por aqueles amigos eternos até que aprendi a nadar razoavelmente bem para não sucumbir. Descobri que preciso mergulhar fundo em apnéia.
Faço votos que 2015 seja um ano de tirar o fôlego, para que eu possa aprender a respirar.


Feliz ano novo.

domingo, 7 de setembro de 2014

Falha

Tombe, recue, desfoque.

Desencontre, desconcentre.
De todo mal embrulhe-se.

Danifique, arruíne, aniquile.

Jogue e deixe jogar.
De tudo e de nada, se deixe livrar.

Deixe a desejar, deixe dissipar.

Venha o que virá.
Retome o que vier.

Renasça.


Mary.
Pronto em 02/11/2012

domingo, 6 de julho de 2014

Mares



Som alto demais.
Luz forte demais.
Bebidas a mais.

Perdidos numa onda de sorrisos,
Procurando o silêncio de dias antigos,
Em busca de um novo cais.
Calma, calmaria.

Náufragos.
Afogados nas águas de nós mesmos.





Mary

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Desejos I

Passaria meus dias todos apenas a te olhar.
Gravaria todos teus jeitos.
E trejeitos.

Gastaria minhas tardes todas a decorar teus risos.
Haveria, ainda, aquele que...
Usaria minhas noites todas a te lembrar. te cantar. te sonhar.

Viveria todos meus anos a te amar.

Mary

domingo, 15 de setembro de 2013

Madrugada

Noite passada, sussurrei para ti.
Ouviu, caro amigo?
Ouviu, enfim?

Falei da vida, da lua,
Da dor, da chuva.
E do amor.

Ah, meu amor!
Meu amor foi o que lhe suspirei.
Em teus lábios, por minha vida, implorei.

Ah, doce ilusão!
Nos delírios perturbadores da mente,
Esqueci, inconsciente, da escuridão.

Sob a benção lunar,
Rasguei meu ser diante de ti,
Diante de teu olhar.

Oníricas são as ilusões!
Alucinadas confissões!
Oh luz! Ilumina!

Lá vem a alvorada!
Oh minha cara, leva a loucura contigo,
Guarda meu coração consigo.

Tem fé, coração!


07/03/2013

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Com-posição

Dia de agosto,
Tempo bom, de hoje oposto.
A gosto de quem gosta
De um dia de ventania.

Ventania que suja,
Ventania que limpa.
Que bagunça e que refresca.
Que consome.
E do mesmo jeito que veio, some.

Ventinho e ventão,
Folha que vem,
Cabelos que vão.
Que vem do sol, e vai de novo.
Volta e revolta.
Revolve e não se resolve.


Mary Moreira e Paulo Paim

quinta-feira, 28 de março de 2013

Lutas


Na sala de espera de um médico, esses dias, li uma matéria numa revista médica sobre o desprezo na criação dos meninos. Todos os dias vemos lutas para que as mulheres sejam valorizadas e que sua criação inclua valores que são ensinados aos meninos; acho válido, mas que valores são esses?
Vamos pensar em uma cena clichê: a família se prepara para almoçar, num dia qualquer. O pai se senta á mesa, pode estar tomando uma cerveja e o menino pode esta jogando algum jogo no videogame, na sala.  A menina está na cozinha com a mãe, aprendendo a cozinhar, a organizar o espaço da culinária familiar. E está convivendo.
No ato de cozinhar, a mulher aprende muito mais do que misturar temperos. Aprende-se sobre a ancestralidade da família, hábitos passados de geração em geração; a menina aprende a se relacionar com sua cultura, aprende o modo de pensar dela. Pode-se dizer que é ai que começa a “escravidão feminina”: ela cozinha para servir ao pai e ao irmão, enquanto estes estão esperando por ela. Mas vamos voltar para o garoto que joga videogame na sala.
Ele não está convivendo. Na ânsia de que o homem seja o “dono” da casa, acaba-se esquecendo de que ele também precisa aprender sobre seu meio ambiente. O que ele saberá de sua cultura? Não é importante que os meninos saibam quais os costumes, lendas, hábitos que envolvem sua família?
Se quisermos que a mulher seja reconhecida no meio masculino, é preciso que o homem seja reconhecido no meio feminino também. Se quisermos que uma mulher seja levada a serio quando vai a uma oficina mecânica, por exemplo, teremos que aceitar o homem possa ser bem aceitos em cabeleireiros  É uma faca de dois gumes: é a mutua aceitação que está em jogo.
De nada adianta veicular imagens de homens cuidando de bebês, num estereótipo de bom pai, se quando ele ainda era um menino não lhe ensinaram a trocar as fraldas de sua irmã mais nova por que isso é “coisa de mulher”.

É o que eu acho.